Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

*Blog oficial do jornalista Helio Fernandes que durante 46 anos foi diretor do jornal Tribuna da Imprensa. Aqui teremos suas matérias exclusivas, e também a participação de colunistas especialmente convidados. (NR).

COMISSÃO DA VERDADE NEM SE PREOCUPOU COM A DESTRUIÇÃO ASSASSINA DA TRIBUNA. TAMBÉM NÃO SE INTERESSOU PELO MEU DEPOIMENTO DE SEIS HORAS NO SENADO. DENUNCIEI O GENERAL OTAVIO MEDEIROS, NOMINALMENTE, PELO ATENTADO-PRORROGAÇÃO DA DITADURA.

HELIO FERNANDES
13.11.14

Fez trabalho mais ou menos competente, embora tenha usado e abusado dos holofotes. São humanos. Ontem exaltei a última tentativa: terminar os trabalhos, acabando com a “anistia ampla, geral e irrestrita”. Hoje com base nessa mesma decisão, faço restrição á Comissão, num fato gritante de perseguição e vingança dos ditadores.

Em 26 de fevereiro de 1981, prédios e máquinas da Tribuna da Imprensa foram destruídos e destroçados. Essa data é naturalmente posterior a 1978 e 79, quando os generais se inocentaram, com essa “anistia ampla”. A Comissão não examinou esse crime, não percebeu que mais do que uma vingança, aquele atentado era a preparação da “prorrogação da ditadura.” O que tentaram no 1° de maio a seguir.

Meu depoimento de seis horas, na CPI do terror.

Naquela madrugada, diante dos escombros do jornal, grandes personalidades que estavam no Rio souberam. Barbosa Lima Sobrinho, Alceu Amoroso Lima, Ulisses Guimarães, Bernardo Cabral, e mais e mais. Funcionava em Brasília no Senado a chamada CPI do Terror. O relator era Franco Montoro, que me telefonou: “Helio, quero que você venha depor imediatamente. Conversei com o presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho, vou me encontrar com você amanhã no gabinete dele”.

Encontramos-nos. Acertamos, três dias depois fui a Brasília depor. Sessão extraordinária, lotadíssima, não apenas de senadores mas também de deputados, da situação e da oposição. Respondi a todas as perguntas, depoimento contundente e revelador.

Não esqueci de um fato a respeito da preparação do atentado. Ou um nome dos criminosos, começando e terminando com acusações tremendas ao Chefe do SNI, general Otavio de Medeiros, que estava no cargo, poderoso. Se a ditadura fosse prorrogada, o próximo general a chegar ao poder seria ele.

Seis horas assustadoras.

Como gosto sempre de falar de improviso, as denuncias foram surgindo com precisão Estarrecimento geral, as recordações estavam mais do que provadas pela precisão das informações. Eu havia reservado Hotel (o de Brasília), ia dormir lá, previa que o depoimento acabaria tarde.

Quando souberam do fato, senadores me falaram até como repreensão: “Você não vai dormir em Brasília de jeito algum”. Colocaram-me num carro, seguido por mais dois também com parlamentares, me “empurraram” para dentro de um avião. Sabiam o que podia acontecer se eu passasse uma noite em Brasília.

Meu depoimento desapareceu.

Na época os discursos e depoimentos eram registrados por taquigrafas, hoje é de forma eletrônica. Algum tempo depois, pretendi rever o que falei, pedi ao senado que me desse cópia. Como disse aí em cima, falei de improviso. O senado me informou oficialmente: “não há registro do seu discurso”.

Recorri e muitos senadores, todos ficaram perplexos, não encontraram nada. Telefonei para o próprio relator, Franco Montoro, que já era governador de São Paulo. Considerou “impossível”, mas como tinha muitas ligações com o senado, disse que ia apurar e “descobrir” onde estava o depoimento, “assustador” para os remanescentes da ditadura.

Alguns dias depois, Montoro me telefonou: "Helio, é inacreditável, não existe o menor traço do teu depoimento. Se eu não fosse o relator e não estivesse presente do primeiro ao ultimo minuto, até eu acreditaria que não houve nada, que você não esteve presente".

Desapareceu mesmo para a Comissão da Verdade não existiu

Essa Comissão passou várias vezes pela Rua do Lavradio, sede da Tribuna e local da vingança-depredação-prorrogação, nem se lembraram do passado, do presente, e da lição depreciadora e destruidora que ficaria para o futuro. Principalmente pelos efeitos negativos. E alguns insensatos e irresponsáveis, já pregam a "volta da ditadura militar".

Essa Comissão está na obrigação de investigar em profundidade o que estou denunciando, até para me desmentir publicamente, se for o caso. E como tentam (?) responsabilizar criminosos, podem e devem usar o poder que têm para descobrir o meu depoimento de seis horas, na CPI do Terror do senado.

PS- Imaginem esse depoimento publicado e revelado agora. Que frustração para os que pedem a "volta da ditadura", não sabem conviver com a liberdade e a democracia.

PS2- Por outro lado, que trunfo e triunfo a CPI teria contra este repórter, com todos os elementos para desmenti-lo. Se puderem provar que eu não fui depor no Senado, que esse depoimento não desapareceu pela razão muito simples de que jamais existiu.

PS3- A sorte está lançada. Os membros da Comissão podem atravessar o Rubicon, sem se molharem. Ou ficarão encharcados de pusilanimidade. Acreditando que são baluartes da santidade, mas fétidos de responsabilidade.

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