Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 29 de abril de 2015

EU E CARLOS LACERDA NÃO BRIGAMOS NUNCA, DIVERGIMOS MUITO, SEM HOSTILIDADE. A DÍVIDA ALUCINADA.

HELIO FERNANDES
29.04.15
Cansei de escrever ainda no primeiro mandato: o barril de petróleo que estava acima de 100 dólares, caiu para menos de 50. E especialistas que acompanham o mercado, dizem: "Dificilmente voltará ao preço antigo". A Rússia foi a primeira a desabar.
Mostrei em números e influenciam desastrosa para a empresa, principalmente no caso do pré-sal. Textual ha meses: "Cada barril desse profundo e quase inatingível poço, custa entre 60 a 62 dólares. Quando estava a 100 dólares, lucro magnífico. A 50, desastre irrecorrível". 
Agora o presidente da Petros revelou á jornalista Monica Bergamo: "Ha um ano o preço do barril de petróleo passava de 100 dólares, hoje custa a metade. E só fazer a conta, não fecha".
Levou tanto tempo para descobrir? Assim que chegou devia ter gritado, “parem as máquinas” (sondas) temos que acertar o preço do custo com o da venda.
Disse também á jornalista: "Estou convocando diretores para sair da rotina e discutir o plano de negócios da empresa para os próximos cinco anos". Excelente, só não pode esquecer Graça Foster, Gabrieli, Sergio Machado, Paulo Roberto Costa, Cerveró, Duque, Vaccari, Barusco. Não pode esquecer para não repeti-los ou imita-los.
Dívida alucinada.
Números inquestionáveis, fornecidos publicamente pelo Banco Central. 1 - Em março o que o país deve, foi elevado em 4,8%. 2 - O total agora está em 2 TRILHÕES, 440 BILHÕES de reais.
3 - Muitos economistas "consideram" que esta dívida não é tão quanto imaginam. 4 - E argumentam: "Diversos países, principalmente com economia mais solida e consolidada, como EUA e Japão, devem várias vezes mais".
5 - Fogem da realidade chamada juros, país recompensa a dívida com 13 por cento. 6 - Com os juros mínimos desses dois países, a dívida passa a ser investimento. No Brasil é desestabilização
Resposta.
“Helio, nesse processo todo onde é que nos erramos?”. Com essa pergunta. Carlos Lacerda dava inicio a um debate interessante e admirável que durou seis dias. Até o já ex-governador conseguir ser liberado no dia 28 de dezembro de 1968, oito dias depois de ser preso.
Até hoje, 46 anos decorridos, lamento o fato de não termos podido gravar essa troca de conhecimentos, de lembranças, convicções, participações. Eu já criticara o fato dele se “empenhar estabanada e imprevistamente para ser libertado”. Tinha três filhos. Mandou um pedira Abreu Sodré, “governador” de São Paulo, que fizesse alguma coisa pela sua liberdade. Outro foi conversar com o general Sizeno Sarmento, um dos líderes do golpe de 64, mas que como coronel fora secretario de segurança do seu governo. E o terceiro, pedir a mesma coisa ao cardeal, seu grande amigo.
Comentei: “Carlos, quem está preso não pede nem cede nada”. Não gostou, mas nosso relacionamento sempre foi critico embora não hostil ou agressivo.

Estavamos sentados no chão, dormiamos ali mesmo, ocupavamos uma parte da tribuna de honra do regimento Caetano de Farias. (general), Chefe da Casa Militar do presidente Wenceslau Braz. Quando acabou o mandato foi nomeado governador de Mato Grosso. Agora se fala muito em impeachement, foi o primeiro atingido, antes mesmo de tomar posse. Não era matogrossense, a Assembleia Legislativa se insurgiu, votou e vetou por unanimidade a sua nomeação).

No dia 13 de dezembro, ás 8 e meia da noite, quando ouvi o locutor Alberto Cury ler o tenebroso AI-5, comecei a me vestir, Rosinha comentou: "Você não costuma sair a essa hora, acabou de chegar do jornal". Resposta: "Você ouviu, serei preso imediatamente, prefiro ser preso no jornal, tenho que deixar instruções". 

Na porta da minha casa, mesa com um telefone. Tocou quando ia saindo, Rosinha atendeu, me passou, "é o Carlos". Atendi, falei: "você talvez seja a única pessoa que eu atenderia, tenho que ir embora, serei preso logo". Veio a pergunta: "E eu?". Resposta: "Você também será preso e cassado". 
Do outro lado um berro estrondoso: "Você está acostumado a adivinhar, mas não serei preso nem cassado". Disse um está bem, desliguei. Isso está na biografia do Foster Dulles, um "brasilianista" que fez notável relato sobre Carlos. Tão extraordinária que ninguém mais tentou fazer outro. Seria impossível chegar perto dos seus dois volumes.

Fui preso ás 10 da noite, levado para o Caetano de Farias, já estava lá um grande amigo, jornalista Osvaldo Peralva, admirável figura, Editor do "Correio da Manhã". Ficamos conversando a noite toda, no chão duro. No dia seguinte 14, ás 8 da manhã, chega Carlos Lacerda. Me abraça até efusivamente, falou: "como sempre você adivinhou, mas agora só metade. Fui preso mas não serei cassado".

Seus contatos através dos filhos que deram resultado, no dia 22 foi libertado, ainda tínhamos muito a conversar. No dia 23, o comandante me chamou, comunicou: "No meu gabinete está o coronel fardado, veio conversar com o senhor". Fui, o que fazer? Sem perder tempo, afirmou: "Vim aqui autorizado a lhe fazer uma proposta, se aceitar, estará livre imediatamente".

A resposta: "O senhor sai agora, 23, fica em casa mais 24 e 25, no dia 26 se apresenta aqui novamente". Fiquei revoltado, mas não sabia do que eles eram capazes. Respondi: "Aceito a primeira parte da proposta, só não volto VOLUNTARIAMENTE dia nenhum. Mas como fazem sempre, podem me prender em casa ou o jornal".  

A alteração do seu rosto, mostrava surpresa, que se traduziu na pergunta: “O senhor não quer passar o Natal com a sua família?". Resposta: "minha família virá passar aqui, se vocês não proibiram”, Rosinha e os meninos ficaram comigo, não ganhei a liberdade "com condições", mas não perdi a companhia.

Este repórter, Mario Lago e o Peralva ficamos até 6 de Janeiro, Dia de Reis. Os generais são torturadores, arbitrários, autoritários, atrabiliarios, mas muito católicos. No dia 30, uma sexta feira, soubemos que Lacerda havia sido cassado.

Na segunda, dia 2 ás 10 da manhã, foi se despedir de nós, comunicou que viajaria para a Europa. Num abraço generoso, não escapou de pronunciar a palavra que mais usa comigo: "Não sei como é que você faz isso, mas adivinhou outra vez fui cassado".

Ficou 4 anos no exterior, 2 em Milão, o resto na França, Itália, EUA. Voltou em 1974, inteiramente transformado, totalmente isolado de todos. Fechado na Nova Fronteira, sem falar com ninguém, não recebendo nem visitando. Não houve reconciliação pelo fato de não ter havido rompimento. Foram quase quatro anos sem diálogo, só meditação da parte dele.

Obrigado, Fernando Pawwlow por ter trazido o assunto. Continuo, verei se termino amanhã.
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