Titular: Helio Fernandes

quinta-feira, 9 de abril de 2015

TEMER, O VICE, DONA DILMA, VICE-VERSA. PARA ONDE IRÁ O EX-PRESIDENTE DA CÂMARA?

HELIO FERNANDES
09.04.15
Irá depor hoje na CPI da Petrobras. Não sabe se fica em silêncio ou se conta tudo. Ontem ia receber instruções da cúpula do PT, talvez do próprio Lula, faltou tempo. Surpreendido ou estarrecido com a estratégia (?) da presidente de trocar o PT pelo PMDB, esqueceram o tesoureiro.
Os membros do PMDB na CPI não escondem, até brandam: "Vamos estraçalha-lo". Ontem, quarta, por volta das 11 da noite, passaram a ordem: "Nenhum representante do PT pode faltar á sessão. E devem responder direta e imediatamente qualquer provocação do PMDB". E acrescentavam: "Sem qualquer gentileza". É preciso esperar para ver o que acontecerá. Imprevisível.
Renan Calheiros e Eduardo Cunha, PMDB, vetam a mudança de Eliseu Resende, Ministro do PMDB para Relações Institucionais, e dessa forma, Temer, o vice-presidente do PMDB, possa assumir o comando, a tática e a estratégia da política de um governo do PT.
Essa iniquidade demonstra a fragilidade do governo e a inutilidade da presidente Dilma. Temer foi transformado no mais poderoso vice da República. Com exceção de Sarney, que assumiu com a morte de Tancredo. Fez um governo ruinoso e tumultuado mas foi até o fim.
Nos 41 anos da Primeira República, (a República velha) os presidentes vinham de São Paulo e às vezes de Minas, os vices do Norte/Nordeste, sem força e sem poder. Nos 15 anos de Vargas não existia nem vice. Getúlio não ligava para ninguém.
Depois da derrubada da ditadura Vargas, veio 1960, pela primeira e única vez os vices disputavam eleição, a tramoia Jânio-Jango, com a traição dos dois, ficou aberto o caminho para o novo golpe, o de 64, com o domínio dos generais torturadores.
Nos 21 anos que ficaram no poder, os vices eram civis mas não assumiam. Para agradar JK, (a quem cassaria na primeira oportunidade), Castelo Branco deu a vice a José Maria Alkmin. O “presidente” viajou, Alkmin foi dormir tres dias num motel do Paraguai.
Em 1969 Costa e Silva morreu, o vice Pedro Aleixo não assumiu, o cargo foi para a Junta Militar dos “três patetas”. No dia seguinte fui o primeiro a chama-los assim, logo me mandaram para Campo Grande, hoje capital do Mato Grosso do Sul.
Figueiredo feito “presidente” em 1979, dois anos depois teve que fazer transplante de coração em Cleveland. Passou o cargo a Aureliano Chaves, o primeiro civil a assumir. Mas Figueiredo voltou ao país e á presidência, ficou até o último dia só não transmitiu o cargo, saiu pela porta dos fundos para encontrar com Sarney, o vice que assumiu com Tancredo ainda vivo.
O Ministro que era do PT e foi demitido sem saber, procurou Dona Dilma para saber se era verdade, era, disse que pediria demissão. Não pediu, foi transferido. Até o segundo Joaquim, que assumiu cheio de restrições, ninguém sabia quanto tempo ficaria, vibrou com a jogada do PMDB. E afirmou publicamente: “agora a presidente acertou”.
Surpreendentemente cultiva a ironia, ou sente tão fortalecido que pode desonerar suas relações com o Planalto. Ninguém ouviu falar em Lula, não se sabe por onde anda, ou “não sabe de nada”, como habitualmente.
Sem tripudiar ou tergiversar: Temer é a primeira figura da República. Não pode ser demitido, foi eleito, mesmo sem votos. Nem afastado, Renan e Eduardo Cunha não concordariam.
Para Dona Dilma, a tranquilidade. Não ouvirá mais falar em impeachment. O PMDB afastará qualquer hipótese disso acontecer. Seria o grande beneficiário, sujeito a chuvas e trovoadas. Sem risco, conquistou tudo o que pretendia, aprisionou, encarcerou e encurralou Dona Dilma, quase quatro anos de felicidade.
Ideia copiada, não completada.

Quando Henrique Eduardo Alves ficou livre da Lava jato (o que não aconteceu com 55 políticos, incluindo Renan e Eduardo Cunha) sugeri seu nome para Ministro das Relações Institucionais. Justificativa: tem 40 anos de Câmara, 10 mandatos seguidos, incluindo uma eleição para presidente.

Estava indicado para Ministro do Turismo, improcedência e até imprudência. Os que leram ficaram satisfeitos, repetiram, com os argumentos usados aqui, acrescentando a enorme capacidade de relacionamento, podendo portanto aproximar PT-PMDB . Mas como este não é o objetivo geral, o ex-presidente da Câmara vai mesmo para o Turismo.

Agora, com toda a degradação e humilhação de Ideli Salvati, Mercadante, Pepe Vargas, e a "retirada da Laguna" de Dilma, ir para o Turismo, seria uma graça de Deus, perdão, de Renan Calheiros.

Anamara Diogenes, RJ, são muitas perguntas, todas validas e procedentes. Compõem uma vida sofrida, perseguida, vivida mas de maneira alguma arrependida. Faria tudo novamente, sem medo, arrogância, só lamento o que atingiu minha família, meus filhos e a Rosinha, que depois de 57 anos me deixou ha alguns meses.

Começando pelo fim não moraria em lugar algum fora do Brasil. Viajar sim e muito como fiz, mas sempre voltando para casa. Os generais torturadores criaram o slogan ameaçador, "ame-o ou deixe-o". Se julgavam os donos de tudo.

Muitos brasileiros tiveram sair do Brasil "asilados" (obrigatoriamente) outros "exilados" (voluntariamente), alguns por prazer, o que se chama sempre de "caviar do exílio".

Além das perseguições e as prisões aqui mesmo no Rio (três vezes no Codi-Doi) fui sequestrado, confinado, desterrado em três lugares: Fernando de Noronha, (1967), Pirassununga (1968), Campo Grande, hoje capital do Mato Grosso do Sul (1970).

Naquela época, Fernando de Noronha era um deserto, pouquíssimos habitantes, 13 oficiais, que não queriam saber de política. Os outros dois desterros, demonstração da generosidade do povo brasileiro. Em Pirassununga, 30 dias de café da manhã na casa de um, almoço e depois jantar em outras residências. 

Ficavam furiosos, se perguntavam: "Será que esta cidade é o fim do mundo, que para perseguir um jornalista corajoso, ele tem quer ser mandado para cá?" Lugar lindo com uma Escola Normal, famosa, com centenas de alunas das mais diversas cidades.

Campo Grande é sinônimo de Pantanal, um dos lugares mais bonitos que já conheci. Cidade mais "aristocratizada", mas também acolhedora, foram 60 dias, em que aparentemente me esqueceram. Obrigado.
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