Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Getúlio Vargas por Helio Fernandes
18.09.15:
HELIO FERNANDES
Publicado em 05.04.2004
PARTE FINAL
Nunca ninguém chamou Vargas de ditador. E até hoje, quando se fala ou se escreve que a ditadura inominável do Estado Novo acabou, não escreve sobre o fim dessa ditadura e sim “sobre a derrubada de Vargas”. As novas gerações só sabem de Vargas alguma coisa de positivo que não podia deixar de fazer. Mas não sabem nada do negativo, que “realizou” por imprudência, incompetência, inconsequência, incoerência.
Como ditador convicto e assumido, Vargas era admirador de Mussolini e de Hitler. Tido e havido como “ger-manófilo” (palavra muito usada nos idos da Segunda Guerra Mundial), não fosse Osvaldo Aranha e alguns outros mais lúcidos e mais democratas, teríamos perdido a Segunda Guerra Mundial, junto com a Alemanha, a Itália e o Japão.
A partir de 1932 (principalmente com a chegada de Roosevelt ao Poder e a Terrível recessão-depressão dos Estados Unidos), os trabalhadores do mundo inteiro foram conquistando direitos que nunca tiveram. Esper-tíssimo, Vargas se associou a essa onda, fez algumas (muitas) modificações nas relações capital-trabalho. Nada revolucionário, apenas o eventual, circunstancial, ocasional.
Vargas não sabia nada de coisa alguma. Em 1942, foi o primeiro a querer estancar a inflação usando como arma de grande calibre a mudança de moeda. Era o mil-réis, Vargas transformou em cruzeiro, a inflação galopando ainda mais. É verdade que deixou grande saldo em dólares, que o sucessor indicado por ele, seu ministro da Guerra durante todo o Estado Novo, o marechal Dutra, jogou fora impensadamente.
Dutra se “amarrou” aos americanos, jogou fora todas as nossas dívidas, acumuladas por um único motivo: como o mundo inteiro estava em guerra, o Brasil era praticamente o único vendedor. O marechal Dutra se rendeu aos americanos, mestres incontestáveis na arte de vender matéria plástica a preço de ouro e comprar ouro pagando como se fosse matéria plástica.
Logo que ao Poder, a partir de 1931, Getúlio Vargas surgiu com a “ideia genial”: jogar café ao mar ou queimá-lo, para “valorizar os estoques”. Éramos então o maior e talvez único produtor de café do mundo. 96 por cento do café bebido pelo mundo eram plantados, colhidos e exportados pelo Brasil.
E 94 por cento eram de São Paulo. (essa uma das “razões secretas” da revolução de 9 de julho de 1932, em São Paulo. Razões sempre esquecidas ou jogadas para debaixo do tapete. Vargas esmagou essa revolução, para se eternizar no Poder.)
Fazia qualquer coisa para continuar no Poder, se aliava tranquilamente com inimigos, destruía tranquilamente amigos. Não tinha a menor convicção, enche a História do Brasil com episódios hediondos e poucos que possam ser chamados de soberbos.
A melhor prova do que digo, e eu poderia ir dizendo de forma interminável: manteve Luiz Carlos Prestes preso, torturado e desesperado, de 1936 a 1945. Quando precisou de Prestes para se manter e continuar, soltou-o com a obrigação de apoiar o que foi chamado de “Constituinte com Vargas”. Prestes aceitou, o povo reprovou, nenhum dos dois se aguentou.
PS – Tudo isso que digo não vai destruir ou invalidar a admiração de tantos pelo ditador. Mas é preciso ser dito. Sem ódio, sem ressentimento, sem espírito de vingança. Mesmo porque Getúlio Vargas é um personagem rigorosamente histórico. E a História não se estabelece com verdades, mesmo comprovadas. E que, seja como for, não o atingirão. E o 24 de agosto de 1954 é um episódio inédito no mundo e inesquecível no Brasil.
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