Impeachment a um passo do plenário
FERNANDO CAMARA
14.10.15
Eduardo
Cunha ganhou um novo apelido para se juntar a "pingüim": A mão que
balança o berço, no caso, o governo. O primeiro lance da semana, a ser jogado
hoje, pertence a ele. Consiste em definir se arquiva ou dá prosseguimento aos
pedidos de impeachment. A tendência de Cunha é arquivar porque se trata de
pedidos relativos a fatos do mandato anterior.
Mas
a oposição estuda aditar à proposta as pedaladas de 2015, em investigação pelo
Ministério Público. Se aditar, é bem provável que Cunha adie a decisão sobre o
processo de Hélio Bicudo e arquive os demais.
O
governo não está parado, a espera dos movimentos de Eduardo Cunha. Se na semana
passada Dilma perdeu todos os confrontos, nesta o Governo tentará se
reorganizar para enfrentar as consequências das derrotas. Nesse esforço, não
houve feriado para Dilma e sua tropa de choque. Eles se trancaram por horas a
fio durante o fim de semana prolongado, para tentar antever o cenário
pré-impeachment e tirar ações que possam contrapor os fatos.
O
governo tem pressa. Primeiramente, trabalhará do jeito que sabe: com cargos e
emendas, enquanto torce para que Eduardo Cunha termine levando um xeque-mate
por causa nas contas na Suíça, atribuídas a ele e à sua família.
Por falar
em contas na Suíça...
O
que aconteceu com as denúncias de contas na Suíça, publicadas pelo O Globo e
pela Folha, onde constavam Rodrigo Bethlem, Cláudia Raia, Jô Soares, Jacob
Barata e outros? Há uma CPI, a do HSBC no Senado, tendo como prazo final para
entrega de relatório o dia 22/12/ 2015. Ter dinheiro no exterior não é
crime, mas é preciso que se declare e se pague os impostos. Eduardo Cunha não
fez nem uma coisa, nem outra. Detalhes das contas começaram a aparecer desde a
semana passada deixando o presidente da Câmara em situação que constrange até
seus fiéis escudeiros.
Desconstruindo
Cunha
Cunha
não foi pego desprevenido. Já sabia porque foi avisado pelo próprio Banco
Suíço. Talvez ele não esperasse a fartura de detalhes. Considerando-se sua
experiência política, é difícil prever se assumirá ou continuará negando as
contas. O fato é que ao que tudo indica, ele mentiu aos seus pares. E a pena
para isso é cassação do mandato. Ocorre que, assim como Renan Calheiros fez em
2007, Eduardo Cunha só entregará o cargo de presidente da Câmara quando tiver a
certeza de que seu mandato será preservado.
Esses
desdobramentos, entretanto, devem ocorrer apenas em 2016, uma vez que faltam
apenas dez semanas para acabar o ano legislativo. Da
parte do governo e do destino de Eduardo Cunha, o que se vê é um quadro cada
vez mais difícil.
Já
falamos de Cunha. Vejamos, agora, a situação da presidente:
Dilma
fez quase tudo o que lhe foi recomendado. Colocou Jaques Wagner e Ricardo
Berzoini em postos chaves, tirou o Mercadante, assumiu que o Temer não resolve,
e passou a negociar diretamente com o Líder Picciani, deu os ministérios ao
PMDB. E ainda assim, perdeu.
Dividiu
a Base na Câmara, e a rearrumação dos ministérios foi esvaziada, ficou sem
nexo. A reforma não funcionou. Faltou uma plataforma, um Programa de Governo
com orientação política, assim como faltou estratégia para corrigir o rumo da
economia. Fez parecer que a reforma tem como objetivo único de garantir os 171
votos para assim derrotar o impeachment.
Anunciou
o novo ministério ao gosto do freguês, mas não conseguiu quórum por duas vezes
para confirmar os seus vetos contra a Pauta Bomba. É um recado: as manobras
políticas criaram insatisfações em um número de parlamentares maior do que os
que foram "agraciados". O resultado foi a dispensa ao PMDB no Blocão
que elegeu Eduardo Cunha. Para completar, sem o PMDB o Blocão é maior do que o
PMDB.
Fez
reforma toma lá dá cá... Só deu...
Dilma
seduziu Picciani com cargos, e ele seguiu a sua bancada deixando Cunha, que até
então sempre o orientou. Recordo que um dos primeiros gestos de aproximação da
família Picciani, o então coordenador da bancada do PMDB/RJ indicou para a
Comissão de Constituição e Justiça o deputado mais jovem e com
pouquíssima experiência, e sem destaque em matéria constitucional.
Foi
assim Leonardo assumiu a presidência da importante CCJ, Picciani busca
desesperadamente se consolidar como líder, mas André Moura se faz presente
perante aos Blocos, e Lúcio Vieira Lima, da Bahia, mantém um grupo unido em
torno da sua língua afiada moral da história: Picciani perde
musculatura.
Marcelo
Castro ainda não sabe que foi tungado. O Ministério da Saúde perdeu verbas
significativas, mas, aos poucos vai ganhando os cargos de segundo
escalão.
TCU
Adams,
sem ter como responder às "pedaladas", criou uma briga
infantil com Nardes, transformando o julgamento numa "Alemanha"
- TCU 8 x 0 Adams. O pedido de liminar ao STF ascendeu o espírito de corpo nos
funcionários do órgão, e daqui para frente o relacionamento entre os servidores
com o Governo tende a ficar muito duro.
No
TSE, a vida de Dilma também não foi fácil e a chapa Dilma e Temer está agora
sujeita a uma longa investigação.
Quanto
à Lava Jato, nesta semana aguardamos ações esclarecedoras do STF e do juiz
Sérgio Moro, em especial sobre as delações premiadas e os políticos enroscados
nas denúncias.
Marta Suplicy
A
senadora concedeu uma longa entrevista ao Correio Braziliense onde deixa claro
que votará em favor do impeachment de Dilma, mas não mencionou o PL do Super
Simples que está parado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
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