Ninguém
quer conversar com Dilma, principalmente do PMDB e PT.
HELIO FERNANDES
Escrevi
ontem, segunda, uma matéria que me levou 3 dias. Tive que conversar com muitas
pessoas, quase todas que participaram do inútil e sem conseqüência
"conselhão". Pois ontem, logo depois de meio dia, levei horas tentando
desfazer o que estava publicado. Vários personagens me contataram. Discordando,
mas pouparam o repórter. Um senador informante e amigo de 30 anos, outro mais
moço e menos interligado, estavam revoltados.
Massacraram
as fontes, não concordavam. Como revelei que um empresário, como gesto de boa
vontade, garantiu, "votarei pela CPMF temporária". E ainda explicou,
"6 meses deste 2016 e o ano de 2017". Foi violentado verbalmente,
"o primeiro empresário que apoiar a CPMF será trucidado em praça
publica".
Ás 3 da
tarde, um deputado do PMDB da base, (pediu que identificasse sua posição, os
senadores pediram o contrario) falou quase 30 minutos e o repórter só ouvindo.
Demoliu a presidente e terminou espantosamente: "Quando vou conversar com
ela, tenho vontade de usar repelente, como se ela estivesse com Zica, política,
econômica, eleitoral". Inacreditável, tenho visto e ouvido muita
barbaridade, mas não igual a essa.
Tudo isso
demonstra a dificuldade quase impossibilidade de haver conciliação, harmonia,
pelo menos pausa para alguma votação: "Estou concordando com alguns que me
disseram que a melhor solução seria a cassação da chapa Dilma - Temer".
Vou retomar os contatos com o TSE.
O destino traiu Dirceu, ou Dirceu traiu o passado
que parecia notável.
Apenas
reflexões sobre a vida, convicções, resistência a privilégios e generosidades
que batem á porta. Só poderia ser mesmo inesperadamente, divagações e reflexões
brevíssimas. Meus contatos com Dirceu, foram rapidíssimos. A primeira vez em
l983, homenagem na ABI, ao notável Cardeal Evaristo Arns, que resistiu á
ditadura, e rezou a emocionante missa de Sétimo Dia pelo assassinato de Herzog.
Dirceu me viu, falou, "você está muito bem". 20 segundos.
20 anos
depois, em 2004, a secretaria do jornal me avisa: "O Ministro José Dirceu
está na linha, quer falar com o senhor". Atendo, só ele fala: "Helio,
o governador Requião me diz que estamos praticando discriminação contra a
Tribuna. Isso seria uma indignidade, se estamos no Poder, devemos a homens como
você, que lutaram bravamente contra a ditadura. Vou tomar providencias".
Desligamos.
Três ou
quatro dias a cena se repete, "o Ministro está na linha", apenas ele
fala: "Helio, estive com o Secretario Gushiken, que me disse, enquanto
controlar a publicidade do governo, a Tribuna não publicará um centímetro, não
posso fazer nada". Desligamos.
Não
contei nada ao governador- senador Requião, embora naquela época nossos
contatos fossem praticamente diários. Mas conhecendo bem o personagem, sabia
que ele explodiria tudo, até resolver a questão. Nunca mais encontrei ou falei
com Dirceu no governo ou fora dele. Não consigo imaginar a razão de Dirceu (e
outros) ter mergulhado de cabeça no mensalão e no petrolão. Mas mergulhou. Por
que, Dirceu?Seria o sucessor natural de Lula, sem qualquer duvida ou resistência.
80 anos depois, Dilma desmoraliza o nome do grande
Pedro Ernesto.
Prefeito
do Distrito Federal em 1931, foi o primeiro prefeito eleito em 1932. Notável
figura humana, construiu em Vila Isabel o hospital que leva seu nome.
Administrado por ele, uma das referencia da época. Quando Vargas sofreu
atentado na Rio Petrópolis, (escondido pelos jornais e depois por historiadores)
Dona Darcy foi fortemente atingida nas duas pernas, queriam amputá-las. Pedro
Ernesto não deixou, resistiu. Dona Darcy foi salva, integralmente.
A revolução comunista de 1935.
Prestes
ficou vários anos na União Soviética, veio, viu e não venceu, foi um fracasso
completo. Preso em setembro de 1936, Vargas começou a fazer ligações com vários
personagens. Um deles, Pedro Ernesto, Socialista puro, como diria 40 anos
depois, o Presidente da França, Mitterrand: "Sou socialista, tenho horror
aos comunistas, jamais fui ou irei a Moscou".
Vargas
sabia muito bem quem era ideologicamente Pedro Ernesto. Mas sabia também que
era popularíssimo, candidato mais do que possível para a
eleição de 1938. (Que não houve). Mas de qualquer maneira, covardemente mandou
prender Pedro Ernesto, em novembro de 1936. A repercussão foi terrível, grandes
grupos se formaram protestando contra a prisão.
Osvaldo
Aranha, Ministro do Exterior e a figura mais importante do governo, falou
pessoalmente com Vargas, que não respondeu nada. Meses depois a proposta
indecente. Pedro Ernesto seria solto se escrevesse carta pessoal a Vargas, se
comprometendo a abandonar a vida publica e não se candidatar a coisa alguma.
Como recusar?
Pedro
Ernesto saiu da prisão, na companhia de Osvaldo Aranha e de Dona Darcy, extraordinária
figura. Vargas logo se transformaria em ditador. Agora, por pura incompetência,
Dilma enlameia o nome de um personagem, que ela nem sabe quem é.
Acabou o recesso,
curiosamente. Lewandowski presidiu a primeira sessão,com criticas duras ao
Executivo e Legislativo. Motivo: cortes orçamentários, que atingiram apenas o Judiciário.
Passou a palavra ao Procurador Geral. Sentado ao lado de Eduardo Cunha (o cerimonial
informou que não havia outro jeito), citou nominalmente os presentes, incluindo
Renan Calheiros. Mas ignorou o presidente da Câmara. E fez contundente relatório
sobre a Lava jato, com Eduardo Cunha presente, embora não nominado.
Cunha,
como era esperado, apresentou o requerimento de contestação do próprio Supremo.
Três itens. 1-Quer voto fechado e não aberto. 2-Não aceita chapa única para a
Comissão que examinará o impeachment. 3- A maior exigência é sobre o papel do
Senado no julgamento do impeachment.
Deve
perder as três ponderações. Talvez, quem sabe, o Supremo aceite a chapa avulsa.
O processo contra o próprio Cunha, só em março. O Ministro Zavascki vai intimar
o acusado. Este tem 10 dias para a defesa. Entregue esta, o Ministro relator
redige seu voto (sem prazo), e entrega ao presidente. É marcada então a pauta
para o julgamento pelo plenário.
PS- O
depoimento de José Dirceu na sexta feira, teve trechos revelados publicamente
ontem. Diante do Juiz Federal Sergio Moro, o ex-ministro deixou a impressão de
sinceridade. Foi quase uma confissão, embora conduzida com serenidade.
Mas a
frase final chega a ser lancinante: "Não consigo aceitar a prisão".
Não percebeu antes? Preso aos 20 anos e trocado por um embaixador, estava
no roteiro do heroísmo. 40 anos decorridos, no auge e no apogeu, insensatamente
praticou suicídio ético, político, moral, voluntariamente desistiu de tudo, até
da própria vida. Agora, nem mesmo a liberdade seria uma recompensa.
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