Titular: Helio Fernandes

terça-feira, 3 de maio de 2016

A chapa Temer-Cunha beneficia os acusadores, que passam a julgadores

HELIO FERNANDES

Pode mudar a denominação, de PresidentA para presidente. De nome, Dilma Rousseff para Michel Temer.  Mas como o estilo é o homem, o modo de governar será o mesmo, em vez de realização, interrogação. Quantos deputados têm o seu partido, 367?  Desculpe, esse é o total da votação gloriosa do impeachment na Câmara.

O dialogo continuará duvidoso de parte a parte, ninguém confia em ninguém. Ave, Cezar os que vão morrer te saúdam.  Apesar da citação histórica, o troca-troca será o mesmo. Não mudam nem os partidos, as exigências, a falta de credibilidade, e a volúpia por cargos. Muitos voltarão, talvez alguns precisem de uma "quarentena" para mudarem de "ficha suja" para "ficha limpa".

Não que o novo (?) donatário tenha grandes preocupações com a moralidade. A dele também é conspurcada, esgarçada, contestada. Apesar de não saber muita coisa, acredita que o esquecimento não significa recuperação. Mas ás vezes lava mais branco, o que não tem a menor importância para o governo interino. No entanto serve para aplacar a contundência das ruas. Que sempre ouvida ou consultada, praticamente por unanimidade, pede a cassação do seu parceiro, companheiro e intimíssimo, o corrupto Eduardo Cunha.

Não é necessário o menor esforço para comprovar: a chapa Temer e Cunha, (o primeiro a assumir numa eventualidade) estará no Planalto no dia 11 ou 12 de maio. Cunha irá como convidado de honra (Deus me perdoe a calunia), continuará morando no palácio destinado ao presidente da Câmara. A Comissão do Senado esgotará o tempo reservado, e fará a segunda votação, com o placar da primeira: 16 a 5. Alguém me diz: "Será 15 a 6, um senador que estava indeciso, se definiu"

Não discuto, não me interessa, não é o mais importante. O relevante é a repetição do que aconteceu na Câmara. Acusadores, por imposição deles mesmos, se transformaram em julgadores. Dos 367 que apoiaram o impeachment, quase a metade respondia a processo e até processos. Gramaticalmente tem que ser no plural, o que na realidade não deixa de ser singular. E a transformação foi referendada pelo corrupto que comandava tudo. Negando a palavra ao Advogado de Defesa, que pretendia responder ao relator, afirmou: "Ele não é mais relator, agora passou a julgador".

No Senado a mesma vergonha, atentado ao direito, afronta e desafio pelo menos ao bom senso e á sensibilidade coletiva. Receberam o relatório da Câmara, aprovado por maioria acumulada pelos meios e modos os mais turvos e turbulentos. Principalmente por causa da transformação de votos em dinheiro vivo. Revelei com nomes e tudo, na hora exata. Na quarta feira antes da votação, 14 deputados receberam 50 milhões.  Acordo perfeito, divisão sem qualquer atrito. Ninguém quer pagar o pato, mas contribuíram para formar a maioria vitoriosa. A recompensa, garantida.

Faltam 8 ou 9 dias para a chapa Temer-Cunha assumir

Nenhuma possibilidade de contratempo. Pelo menos no Senado. Como lá, nenhum problema, o vice se concentra na formação do governo. Usa os mesmos atalhos e descaminhos, marginalizados pela quase antecessora. E não se livra nem dos nomes de sempre, repetidos e retalhados. Precisa reformular as escolhas, não agradaram. O próprio Temer não imaginava que fosse encontrar tantos obstáculos no preenchimento do Ministério da Justiça. Não pelo ministério, mas por causa da ligação com a Lava-Jato. Por ele mesmo e pelos amigos e os compromissos de salva-los.

O primeiro lembrado para esse ministério, o advogado Mariz de Oliveira, foi logo afastado. Desenterraram um manifesto em que ele comparava a Lava - Jato, com a ditadura e o criminoso AI-5. Surpreendentemente surgiram dois personagens extraordinários, que maravilha para a Justiça. Seus Nomes, Carlos Veloso e Ayres Brito, ex-presidentes do Supremo. Diante do passado, do presente e certamente do futuro de Michel Temer, não admitiram conversar. Voltou então o extravagante e esdrúxulo Secretario de Segurança de SP, que havia sido escaneado para a Advocacia da União. 

Tem feito muita concessão a nomes e também a promessas. Garante a Aécio e Serra: "Não serei candidato á reeleição". Gostaram, mas não confiam muito. O PSDB tem 3 presidenciáveis, preferem emenda á Constituição, as duvidas são enormes. Serra, Alckmin e Aécio, já foram derrotados em 4 disputas presidenciais. E pretendem disputar novamente em 2018. Aécio é o presidente do partido e o mais moço, considera que está garantido. Alckmin está desde 1994 no Palácio dos Bandeirantes. Começou como vice de Covas que morreu em 2001. Ele ficou, foi ficando, saiu apenas como candidato à presidente da Republica. 

Serra quer ser presidenciável pela terceira vez. Em 2018 estará com 77 anos. Mas foi quem melhor aproveitou a transição-traição de Temer. Atirou no ponto mais alto, bem no centro do alvo: o Ministério da Fazenda. Sabia que existiriam resistências. Falaram "pode ir para a Saúde ou Educação". Publicamente ficou em silencio. Nos bastidores fez saber, sem parecer exigência, mas deixando claro que era: Fazenda ou Relações Exteriores. Venceu. E em matéria de cargos, muito melhor. O Ministro da Fazenda pode ser cobrado quase que imediatamente, tem, digamos, autonomia de vôo bastante limitada. No Exterior, com as novas atribuições, roteiro de sucesso.

Lula está abandonando Dilma, o destino-futuro dela, afastada do Poder

As manifestações de sábado e domingo, contra o impeachment, fracasso retumbante. Por muitos motivos. 1-Falta de publico. 2-Desinteresse evidente. 3-Os irritantes discursos de Dona Dilma.  4- O mais importante: a ausência de Lula. As pessoas iam chegando, perguntavam logo, "e o Lula". A resposta "está rouco", não agradava a ninguém. É lógico, qualquer um pode ficar rouco. Mas um ex-presidente com a sua arrogância e pretensão, tinha que estar presente. Ninguém o ouviria. Nem precisava explicar, veriam. Mas já existiam rumores de divergência, nada mais compreensível
.
O instante é tormentoso, principalmente a partir de 11 ou 12 deste maio. Afastada como será, (pode ser mais do que visível, acompanhando as sessões do Senado), nada acontecerá como ela e alguns áulicos imaginam e até divulgam. A palavra AFASTADA, abrangente, redundante e não precisa ser traduzida. È territorial, física, administrativa, irrefutável. Tem que deixar o Alvorada imediatamente. E de condução particular, não poderá usar transporte oficial. Pode morar onde quiser, pagando a própria habitação. Tudo o que dizem, a respeito da oposição, miragem.

Se tiver bons conselheiros, deixa Brasília no dia 10. Como tem apartamento no Rio Grande do Sul, pode ir para lá. Usando o Aero - Lula, agora Aero - Dilma. Ficará isolada até o julgamento final, em "até 180 dias". Não irá demorar tanto. Se os que pretendem o impeachment não conseguirem 54 votos, ela volta.
Agora não conseguiram os indispensáveis 54 votos. Mas os que lutam contra o impeachment, também não chegaram a 28. Tudo o que escrevi, não é agradável ou satisfatório. Mas é rigorosamente verdadeiro.

Irrealidade

A presidente Dilma comunicou ao Legislativo, textualmente: "Esta semana enviarei ao congresso, medida antecipando a eleição presidencial". Insensato. Não ha clima para isso, e ela não tem tempo para coisa alguma. O Procurador Geral da Republica, insiste em pedir ao supremo que investigue Eduardo Cunha. Ele já é réu, dentro de alguns dias, será o "sucessor" do vice Temer.  Lógico, numa eventualidade que favoreça á corrupção, que o Supremo já consolidou em decisão unânime.

Nesse pedido, Janot incluiu Aécio Neves e o Ministro Edinho Silva. O presidente do PSDB, tem foro privilegiado como senador. Edinho até á semana que vem quando deixa de ser Ministro. Dizem que o plenário do Supremo se reúne amanhã e decidirá vários processos pendentes. Não tenho muita fé,mas gostaria.


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