Titular: Helio Fernandes

sexta-feira, 20 de maio de 2016

NOVO GOVERNO:

Desorientado, desconcertado, desalentado, Meirelles desacredita no futuro tão almejado, erra até nas prioridades

HELIO FERNANDES

Sem poder algum, no quase inexistente governo provisório ou interino, Temer transferiu todos os poderes para Meirelles. Já circula no Jaburu, pelo menos quando Temer não está, um bordão-brincadeira: "Fala com o Meirelles". O Ministro da Fazenda acreditou, “começou a agir como se fosse mesmo”. Tendo levado uma semana para anunciar a equipe econômica formada á sua revelia ou até conhecimento, esbarrou com a realidade.

O presidente do Banco Central tinha que ser do Itaú. Temer deixou escapar, "que poderia ser dos seus quadros", se agarraram a essa felicidade. O fato foi consumado para desespero silencioso do próprio Meirelles. Este só conseguiu retardar a indicação, não eliminá-la.

Ia acontecendo à mesma coisa no segundo governo Dilma. A presidente queria para Ministro da Fazenda, o Trabuco do Bradesco. Ele também estava ansioso para dar o SIM, como nos casamentos antigos. Surpreendentemente, a cúpula chamou Trabuco, e sem hostilidade, colocou o dilema: "O banco ou o Ministério da Fazenda. Os dois, não é possível".

Publiquei na época e como agora, não encontrei explicação para o veto do Bradesco. A decisão do candidato, altamente compreensível. Com juros  de 400 por cento,a felicidade do Bradesco é para sempre, o ministério todos viram quanto durou. O caso do Itaú, vice-versa.

Aparentemente, o Ministro da Fazenda "com todos os poderes", se descontrolou. Vem cometendo erros primários,comprometendo o governo interino de Temer, e obstruindo o seu,que como carreirista compenetrado,pretende permanente.

Logo no primeiro discurso, anunciou duas medidas, correlatas e repudiadas pelo país inteiro: aumento de impostos e criação ou recriação da famigerada CPMF. Ontem publiquei com exclusividade a reação do Presidente da FIESP, que financiou generosamente o afastamento de Dilma e a ascensão de Temer.

Como "não queria pagar o pato", gastou e financiou. A CPMF está morta e será enterrada da mesmo forma como aconteceu no governo Dilma. O Legislativo (?) satisfeitíssimo, teria que vetar ou recusar essa sigla amaldiçoada. O dilema do interino na presidência: não mandar a mensagem para a Câmara ou mandá-la, ser derrotado e obrigado a reforma ministerial. Não adianta ter constituído como no parlamentarismo, os presidentes de partidos, "indicando" os nomes. Com impostos de 35 por cento por pessoa, quem quer votar mais impostos e para complicar, na véspera de eleição municipal.

Mais equívocos de Meirelles, na televisão, não sai de lá. Anunciou as prioridades do governo: "Redução do desemprego, aumento da arrecadação, elevação do consumo”. Tudo errado, dos pontos principais, importantes e inadiáveis,"esqueceu" os que são rigorosamente inadiáveis e verdadeiramente prioritários: investimento, investimento, investimento.

Isso trará desenvolvimento, crescimento, voltará à desaparecida confiança. A partir daí é que reaparece o emprego e o consumo, crescerão os serviços, a industria atingirá  novamente o auge.

Ninguém fala em investimento, os industriais reclamam mas não cumprem a sua parte. Voltamos aos tempos de Rui Barbosa tomando posse no Ministério da Fazenda, na Republica, em 1889: "A Revolução Industrial da Inglaterra já completou 100 anos e estamos longe da industrialização". Seus protestos tinham outras justificativas, mas valem para hoje.

Ou mudam a mentalidade e os objetivos, ou não adianta Meirelles ir para a televisão e mistificar: "A economia começa devagar e não custa a acelerar". Com esse ministério de inutilidades, a economia em baixa, continua a retroceder.

Conversando

Onofre Tardino e Soares, minha energia foi recolhida desde sempre, a partir dos 11 anos, órfão de pai e mãe. Acabava a escola primaria, passei a trabalhar durante o dia e estudar á noite. Nunca me queixei nem reclamei. Olhando minha carteira de identidade me dá vontade de dizer como Pablo Neruda na sua biografia: "Confesso 
que vivi".

Almir Velásquez, agradeço a tua sensibilidade. Mas concordamos: nenhum personagem desse impeachment, vale o desperdício de um cartão verde. Talvez  pudesse repetir Bernard Shaw, quando foi a primeira vez a Nova Iorque. Levado a visitar a Estatua da Liberdade, perguntaram o que achara. Resposta: "Meu gosto pela ironia não vai tão longe".

Romualdo Pires Phill de Brito - Quero ressaltar o teu valor, Helio. Tenho clientes e repasso para eles,diariamente,o que você escreve. Uma vez, com problemas na Internet, ficaram sem receber. O meu telefone não parou de tocar o dia todo. Um abraço para os teus atentos clientes.

NOVO GOVERNO – II

Eduardo Cunha, o homem mais poderoso do país, sem escrúpulos, sem caráter, sem constrangimento, sem mandato, ainda acaba presidente da Republica

HELIO FERNANDES

Tudo é possível ou imaginável, em se tratando desse personagem. Sem ele não teria havido de jeito algum, o impeachment da presidente Dilma. Isso é conhecido e reconhecido por tantos, que parte enorme da Câmara manteve o deputado como presidente da Câmara. Ninguém ousava desmentir o mínimo possível. As acusações e constatações culposas contra e sobre ele, eram de tal ordem, que ninguém ousava defendê-lo.

Mas sua audácia e desfaçatez eram tão amplas, que todos temiam contestá-lo. Alem do mais, precisavam dele para a abertura e o prosseguimento do impeachment. Não podiam afastá-lo, a não ser depois de ganha a batalha. Em 1965, a ditadura resolveu lançar o senhor Negrão de Lima, candidato a governador da Guanabara.

Precisavam do seu nome, por ser declarada e abertamente, inimigo pessoal de Carlos Lacerda, que terminava o mandato. Mas tinham que tomar duas providencias fora da curva. Primeiro, afastar o Marechal Lott, que já era candidato oficial. Nenhum problema para o poderoso, criativo e imaginativo General Golbery. Como o Marechal candidato morava em Teresópolis, criaram o "domicilio eleitoral". Apesar de ser marechal e lógico, ligadíssimo ao regime, teve que desistir da candidatura. 

O segundo problema, resolvido com a mesma facilidade e tranquilidade. Era indispensável o apoio dos comunistas, relativamente fortes na antiga capital. Mas os comunistas estavam sempre precisando de dinheiro.(Como aconteceu em 1945 em SP,na eleição para o senado. Portinari estava disparado na frente, os comunistas "venderam" a vaga para o empresário milionário, Roberto Simonsen.

Eu e Portinari conversávamos muito num café perto da sua casa, ele me disse: "Não me aborreci, o partido sempre precisa de dinheiro, eu não tinha nada a fazer no Senado".

 Os comunistas "fecharam" com Golbery. Mas os que tinham convicções e lutavam, recusaram apoiar Negrão. Veio a ordem da cúpula: "Votem em Negrão com um lenço no nariz, mas votem".  Votaram, Negrão foi eleito. Com outras nuances mas as mesmas justificativas, repetiram agora,o episodio de 1965.Só que tiveram que agir em duas frentes.

Não tira-lo da presidência da Câmara, era fundamental. E não deixar a Comissão de Ética aprovar a "admissibilidade" para que o plenário cassasse o seu mandato. Deputados arrogantes e presunçosos, com lenço no nariz e horrorizados, mantiveram Eduardo Cunha.

Agora estamos diante da realidade, criada pelos interesses escusos, dos representantes dos partidos ditos mais importantes. Não sabem o que fazer com um deputado afastado da presidência da Câmara e suspenso da função parlamentar. Em pânico, reconhecem, ele está mais forte do que antes. Contribuiu poderosamente para o afastamento de um presidente.

E como consequencia, aprisionou o substituto. È impossível negar sua participação nos dois episódios. O afastamento de um presidente, fato. A submissão do substituto, beneficiado pela sua atuação, mais do que visível, constatável, incontestável.

Por que um Presidente da Republica, mesmo interino, cometeria esse ato criminoso, vergonhoso, acintoso, de indicar para líder do governo na Câmara, um deputado que faz questão de proclamar: "Sou o maior amigo de Eduardo Cunha". Isso já seria inimaginável. Mas ha mais e gravíssimo. O novo líder de Temer, pertence a um partido que elegeu 9 deputados em 513.

Percentualmente, menos de 2 por cento. Responde a diversos processos no Supremo. Mais 3 por desvio de dinheiro. E outro por tentativa de homicídio. Cunha tem preenchido diversos cargos, por indicação feita diretamente ao presidente interino. Entra no Jaburu sem pedir passagem, prefere o encontro particular a ir ao Planalto, e eventualmente ter que esperar.

Ontem foi depor na Comissão de Ética. Era a sessão de numero 199. Mais de 6 meses, a media é de 20 ou 25 dias. Mais de 8 horas  de depoimento, mentindo do principio ao fim. Sem a menor alteração na fisionomia, sem modificar o tom de voz, certo e garantido da impunidade. Disse que não é RÉU em processo algum, num desafio insultante ao Supremo.

Pela centésima vez tentou convencer que "não tenho patrimônio, passei tudo para um truste". Ficou inflexível, não respondeu, mesmo quando afirmava idiota mas audaciosamente:"Se eu declarasse ao Imposto de Renda, um patrimônio que já NÂO TENHO, aí sim, estaria praticando irregularidade, assumindo propriedade e patrimônio que não me pertence".

Para terminar este assunto tenebroso, criminoso, vergonhoso, que parece retirado de um tratado sobre a relevância do lixo sobre o luxo, uma revelação, na qual me recuso a acreditar, mas que é rigorosamente verdadeira. Eduardo Cunha trabalha intensa e incessantemente para VOLTAR À PRESIDENCIA DA CAMARA. Já tem os acordos e apoios necessários, principalmente do presidente interino. Do qual ninguém pode duvidar, depois da nomeação do líder na Câmara.

A estratégia de Cunha e apaniguados, começou no exato momento do seu afastamento da presidência. Está mantendo no cargo, o Primeiro Vice, Waldir Maranhão, que não tem cacife pra coisa alguma. Resiste por interferência e comando de Eduardo Cunha.

Quando este admitir a conclusão de que "chegou o momento", então Maranhão renuncia. E o ex volta vitorioso, a primeira grande demonstração de força do "centrão". Concordo: é impensável. Mas neste Brasil em que vivemos, pode ser inimaginável. Mas não impensável. O resto Cunha obterá por simples gravitação.

Moreira Franco toma a palavra

Sem convicção, como já disse, diplomata, mas também sem fugir da luta, usou seu poder e sua intimidade com Michel Temer, para tentar eliminar as visíveis desavenças que ocorrem na frágil equipe de poder. Ontem, sem veemência ou exaltação, proclamou: "O gado se acalma quando chega no curral". Não conhecia essa vocação rural do ex-governador. E também o momento não foi apropriado. Não acabou com as desavenças. Que representam manifestações de voracidade. E estão se voltando contra ele.

O PT preocupado com Lula

No dia em que a presidente afastada falou ao sair do Planalto, Lula não subiu. Na rua, repetiu o discurso, o ex-presidente estava atrás dela.Registrei: Lula parecia desatento, distraído, sem prestar atenção. Agora a preocupação se espalhou, 
principalmente entre os mais íntimos.  Não tem ido ao Instituto, praticamente sem sair de casa. Pelo visto, acredita que o futuro deverá ser muito pior do que o passado, 

A propósito: um grupo de deputados, entrou com ação no Supremo contra a presidente afastada. Motivo: querem punição para ela, por ter dito que "sofreu um golpe". A relatora, por sorteio, Ministra Rosa Weber, não devia ter recebido a ação. Não só Dilma, mas qualquer cidadão tem direito á opinião. Se fosse nos EUA, a Suprema Corte, nem tomaria conhecimento. A Primeira Emenda, defende, garante e sustenta, tudo que se refere à Comunicação. 

 Estratégia preventiva do governo interino de Michel Temer

Ha um visível afobamento para elevar discricionariamente o déficit publico. Inicialmente, o calculo era de 96 bilhões. Sem maiores dados, foram elevando o numero. Agora, Jucá vem ás ruas e garante: "O déficit é de 200 bilhões, no mínimo". Trata-se de um movimento de autopreservação ou autolouvação. Se as coisas não derem certo o notável líder imposto por Eduardo Cunha, poderá dizer: "Também com o déficit que herdamos, só com milagre". Se acertarem, o mesmo porta-voz transmitirá, eufórico: "Puxa, com a massa falida que recebemos, nem nós acreditávamos".

O novo presidente da Petrobras começa mal

Pedro Parente, quase 15 anos depois de deixar a Casa Civil de FHC, volta a um cargo publico.  E surpreendentemente, para presidir a Petrobras. Não consegui saber quem lembrou o nome dele. Mas não foi uma boa lembrança. 

E pela entrevista que deu ontem, terminando exatamente ás 8 da noite, teremos que esperar muito. Falou 9 vezes o nome Michel Temer, um certo exagero.

Mais grave e quase inacreditável: no momento ocupa o cargo de presidente do Conselho de Administração da Ibovespa. Pediu ao presidente interino, "gostaria de acumular os dois cargos". Temer respondeu: "Não vejo inconveniente”. Não sei quem está mais deslocado no cargo.



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