Temer, desprezado na primeira pesquisa, protestado por aliados, protege desavergonhadamente Eduardo Cunha

HELIO FERNANDES

As revelações que fiz quarta e quinta, enorme repercussão. Análises exclusivas. Denuncias impossíveis de serem contestadas. Comprometimento agora partindo dos próprios aliados e até apaniguados. As reservas surgem até mesmo dos que participaram da conspiração do impeachment. Não podia ser de outra maneira, o fracasso mais visível e aparente do que eles mesmos imaginavam. E que chega diretamente ás ruas.

Internamente, alem de não surgir nada de positivo, alimenta a intrigalhada palaciana. Ministros poderosos tiveram que pedir demissão, logo depois de "licenciados". Outros que continuam "por enquanto", se cruzam e se enfrentam publicamente. Isso naturalmente, não produz nada de positivo.

È claro lógico e evidente, que não podia ser escondido. A pesquisa demorou mais do que a de Dona Dilma, 48 horas depois da reeleição. Temer aparece apenas com 11,3 de referencias positivas. Praticamente o mesmo de antes de ser provisório. Quando ainda se projetava para a eleição de 2018, Temer tinha 9 por cento. Abaixo de Lula, Marina, Aécio e outro do PSDB, Serra ou Alckmin. Em partido diferente, sabiam que seriam preteridos por Aécio.

Agora, "nada mudou entre nós". Muito atrás de Lula, Aécio e Marina. Alckmin tem

acordo com o PSB, legenda que acredita ser socialista. E Serra não deixará passar a oportunidade de ser presidenciável pela terceira vez. Surpreendente: o numero de indecisos. Perguntados sobre corrupção, responderam em ampla maioria: "No governo Temer, será igual a do governo Dilma". O que todos esperavam e responderam: eram a favor do afastamento da presidente Dilma.

Sobre corrupção, até os que estão juntos no palanque da conspiração, protestam. E indicam o mesmo personagem: Eduardo Cunha. Que estaria ou está sendo protegido pelo governo, e pessoalmente pelo próprio Temer. PSDB e DEM, fora os outros, atiram diretamente e não usam bala de borracha.

Denunciam as manobras de Cunha para escapar da cassação. E repudiam o alto patrocínio de Temer para livrá-lo. Ontem mesmo revelei o empenho de Eliseu Padilha, também em defesa do presidente da Câmara afastado.

Com exclusividade, contei. O Chefe da Casa Civil chamou ao seu gabinete, o senador Crivela, presidente do partido da deputada Tia Eron, "chave" da Comissão de ética. Fracasso total. De informação e de solicitação. Ele não preside mais o partido. E por tanto foi embora irritado pelo tempo que perdeu. Não falaram que logo no inicio do governo, Temer, insensato completo, nomeou líder do governo, um deputado altamente comprometido, mas indicado por Eduardo Cunha. Dizem que Temer não foi apenas insensato.  Não tinha cacife para resistir á pressão. O mesmo que estaria acontecendo agora.

Temer também ficou assustadíssimo, com o pedido do Procurador Geral, para prender a cúpula do PMDB. Telefonou para Renan (exclusivo no dia), mas não se manifestou em relação a Sarney e Jucá. Sua preocupação maior, com o fato do pedido de prisão incluir Eduardo Cunha.

Que como esperava recorreu a ele, PESSOALMENTE. Não sabe o que fazer, mas tem que fazer. Não deu uma palavra ao senador Jucá. Que assumiu como todo poderoso. E foi demitido sem contemplação ou consideração.  

Os mais diversos senadores, no dia do vazamento da informação, reagiram de forma diferente do que fizeram quando o senador Delcídio foi preso. Quase todos pediam em entrevista ou da tribuna: "O Procurador Geral, deve mais explicações ao senado". Pois ele, ontem, surgiu publicamente, atendendo ás solicitações.

E uma parte serviu de manchete "Cúpula do PMDB agiu para impedir delação". Exatamente o que estava nas gravações de Sergio Machado, minuciosamente detalhado. E muito mais grave do que pretendem fazer crer. Pois que incluía o próprio Temer.

Na gravação, não fica nenhuma duvida, é textual: "Precisamos trocar de presidente, para ACABAR com a Lava-Jato". E também não hesitavam: "Temos que colocar no cargo o Michel, ou seremos todos atingidos". E fazem mais confissões. Alem disso, como já aconteceu em outras oportunidades, "deixam no ar" a expectativa de relacionamento com personagens importantíssimos, inclusive do Supremo. Não citam nomes. Mas procuram alguém que possa INFLUIR sobre Teori, um "cara" (textual) muito fechado.

Tudo foi combinado, só que nenhum deles sabia que estava sendo gravado. Era uma conspiração de salvamento, muito alem de um simples GOLPE de Estado, como tem acontecido e repetido na Historia da Republica. Sarney sugeriu nomes de "íntimos" do Ministro Teori.

Esse "acórdão", que tentaria juntar personagens dos mais diversos setores, era e continua sendo o que chamei de COLOSSAL. De tal porte e relevância, que está devorando os próprios conspiradores. Não acredito que Teori queira bancar uma decisão monocrática. Mas é certo que os outros 10 ministros, não querem ficar de fora, não participarem de uma histórica reunião.

(O Supremo precisa estudar, pensar e preservar sua Historia. Que tem erros e equívocos, mas que não pode agir ou decidir premeditadamente. O Supremo só tem uma fase indefensável, no Estado Novo. Vargas, ditador sem escrúpulos e sem caráter, fechou a Câmara, o Senado, deixou o Supremo funcionando.

Sabia que precisava dele. Prendeu milhares de pessoas, "ganhava" sempre no Supremo. Mas a vergonha maior, foi à extradição para a Alemanha de Olga Benario. Getulio assinou o ato, seu advogado entrou com recurso, o Supremo referendou o crime, por UNANIMIDADE. Ela foi morta numa câmera de gás, (ninguém tinha duvida).

Privatização da Cedae

A presidente do BNDES falou sobre o assunto, numa entrevista na televisão. (Ontem, 21,30, Miriam Leitão). È preciso muito cuidado quando se entrega serviço essencial, aos cuidados de mercadores de negócios. O Distrito Federal sofria ha mais de 30 anos com a falta de água.

Carlos Lacerda, o primeiro Governador da Guanabara, colocou o problema como prioridade absoluta. Mas faltava dinheiro. Helio Beltrão Secretario do Governo, fez 5 viagens aos EUA, até fechar o financiamento com juros de 1 e 5 oitavos. Ao ano, ao ano.

Lacerda já escolhera o engenheiro Veiga Brito, grande profissional, para comandar a obra. Escolheram o Guandu, começaram os trabalhos. Amigo do governador e amicíssimo de Veiga fui inúmeras vezes lá. Descíamos numa caçamba, enquanto do lado, tudo ia explodindo. Foi um avanço notável, inaugurado no tempo previsto. E a divida paga sem muito esforço. Se precisam vender, é porque a administração a partir de 1965, foi deficiente, omissa, incompetente ou predatória.

A delação de João Santana

O marqueteiro de 3 campanhas presidenciais de Lula e Dona Dilma, está preso ha quase 4 meses. Com a mulher, sócia e profissional. Dirigia a campanha presidencial da Republica Dominicana, quando recebeu a noticia: Sergio Moro iria determinar sua prisão. Veio para o Brasil no mesmo dia.

Sem computador, celular, nada. Apenas um amigo foi esperá-lo, pedido especial. Conversaram muito. Excelente amigo e informante do repórter, contou muita coisa, que publiquei na época. Vou apenas relembrar fato importante.

O marqueteiro confidenciou: "Não tenho nada a esconder, não farei delação, mas negociarei". A segunda afirmação: "Se houver necessidade, pretendo repetir o que fez Duda Mendonça". (Também marqueteiro, enquadrado no mensalão, fez acordo inacreditável.

Foi autorizado a ir a Portugal receber 10 milhões de reais, sem dizer quem lhe pagara.

Voltou, foi absolvido. Em troca, se comprometeu a abandonar a marquetagem. Cumpre.  (Que Maravilha viver).

Como falam na delação de Santana, a conclusão é obvia: não deve ter repetido a façanha do Duda. Mas na certa fez um bom acordo. A situação se agravou muito para Dilma e a Odebrecht. Ansiedade, agora maior, em relação á delação da maior empreiteira do mundo.

Curitiba, cidade que já foi agradável

Jaques Wagner respondia a processo. Era Ministro, tinha foro privilegiado.Deixou de ser Ministro, Celso de Mello,relator no Supremo, enviou a ação para o juiz Sergio Moro. Mais longe e muito mais perigoso. A Procuradoria do Paraná denunciou Claudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha. Sergio Moro aceitou. Base da denuncia: "Ela é usuária, beneficiaria e proprietária  de dinheiro  recebido pelo marido, de propina".

PS-O dia foi todo dominado por expectativa. Na Câmara,Senado, Supremo, TSE, a palavra se manteve intransponível e insuperável.

.PS2-O nome de Eduardo Cunha foi pronunciado em todos os momentos. Chegaram a fazer a ele a seguinte proposta:"Você renuncia á presidência da Câmara, salvamos teu mandato". Isso aconteceu em 2007 com Renan.

PS3-Resposta disparatada mas textual de Cunha:"Seria absurdo eu aceitar, minha volta á presidência, está cada vez mais perto".