Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Temer e Meirelles fingem que divergem sobre aumento de impostos. 100 anos do "doutor João

HELIO FERNANDES

Desde que virou Ministro da Fazenda, depois dos 10 anos de ostracismo por causa do fracasso no BC, no primeiro mandato Lula, mostrou a certeza do abandono para o segundo mandato Lula. Conheceu Temer quando este foi á JBS, resolver divergências sobre doações eleitorais milionárias. Presidente do Conselho da empresa, Meirelles ajudou Temer, nenhum dos dois imaginava, que tivessem o relacionamento que têm hoje.

Carreirista, mas com boa visão sobre seu próprio futuro, percebeu logo, que chamado por Temer, já interino pelo sucesso da traição conspiração, que a oportunidade estava ali. Juntou o maior lugar comum sobre economia, impressionou Temer. E saiu da conversa, já Ministro da Fazenda, mas ainda sem convite. Temer pediu sigilo. Mas na porta do Jaburu, deu entrevista contrariando tudo que Temer pedira, acrescentando: "Terei carta branca para escolher toda a equipe econômica".

Nem haviam conversado sobre isso, Temer ficou contrariado, mas já estava atrelado ao carreirista Meirelles. Não queria começar com uma demissão antecipada, que se transformaria em lugar comum. E revelei aqui, imediatamente, que a meta de Meirelles era a sucessão do próprio temer. Hoje, até as pedras da rua sabem disso.

Se chegar ao fim do governo Temer (quando será?), e não houver reeleição, Meirelles será o candidato da coligação anti PSDB. A primeira opção para Temer, continuar mais 4 anos. Se não conseguir, tentará se vingar do PSDB, indicando Meireles. Por que essa vingança, se o PSDB apóia seu desgoverno? A insistência de Aécio Neves de exigir o fim da reeleição. E o fato de pedir ao TSE, reiteradamente, que casse seu mandato. (O que terá que acontecer, mas isso já é assunto quase exclusivo deste repórter). 

Meirelles não é brilhante, mas sente o que deve fazer, no próprio interesse. Uma de suas idéias fixas é o aumento de impostos. Logo que tomou posse começou a falar no assunto. Com preferência para a CPML que considerava a mais fácil, dizia: "Será pontual". No seu linguajar complicado, pontual, corresponde a provisório. O veto foi total. Recuou, mas não abandonou a ideia.

A partir da recusa da recriação da CPMF, em todas as entrevistas, insistia no que se transformou num bordão-jargão: "Não queremos aumentar impostos, mas teremos que usar o recurso, se acharmos NECESSARIO". (A palavra que passou a usar). Anteontem em São Paulo, deu a sua oitava entrevista coletiva, tendo como ponto principal a fala habitual sobre o aumento de impostos.

Só que anteontem, uma novidade. Meirelles falou por volta do meio dia. Às 2 da tarde, Temer também falava sobre o assunto, não desmentindo o ministro, mas tentando mostrar que a ultima palavra será dele. Textual: "Não haverá aumento de impostos, a não ser como Plano B". Comentou no Jaburu, "a COINCIDENCIA foi genial" Não houve coincidência alguma, e sim mistificação premeditada e planejada, minuciosamente. As relações Temer - Meirelles, continuarão assim, até o amargo fim, seja ele qual for.

O "otimismo" do BC, equivoca de Meirelles

Michel Temer jamais havia ouvido falar no nome que o ministro da Fazenda lhe apresentou como presidente do Banco Central. Mas não podia recusar por dois motivos. Dera "carta branca" ao Ministro para a indicação. E afinal, Meirelles estivera no BC por 4 anos. O novo titular começou a 150 por hora, não parou nem para reabastecimento. Assumiu compromissos que sabia impossível de cumprir. Se não sabia, uma aventura ocupar o cargo.

Logo de saída, garantiu: "A inflação em 2016 ficará no alto da meta, 6 por cento. E em 2017, estará no centro da meta, 4,5 meio por cento". Logo comentei que era vago e audacioso. 2016, aceitei. Mas fazer previsões para um prazo tão longo, sem explicação, inaceitável. E comentei: "2017, de janeiro a dezembro, é o mesmo ano. Assim não é nem previsão, parece mais com adivinhação".

Deu tudo errado. A inflação que já vinha caindo nos últimos tempos de Dona Dilma, de 11 para 7,9 por cento, praticamente paralisou. E não existe adivinhação á vista. Um bom argumento ou explicação. No governo Dilma e nestes meses de Temer, a mesma desculpa para manter os juros nesses catastróficos 14,25 :"Não ha espaço para redução dos juros". E completavam: "Para baixar os juros, só com queda da inflação". No governo de Dona Dilma, este repórter defendia, "os juros já podiam estar em 10 por cento, um alivio para todos os setores”.

Agora do BC, acenam com a realidade: não haverá redução dos juros. E ainda em 2016, a Selic será aumentada. Uma ou duas vezes. Começará a cair em 2017. Sempre com a mesma afirmação farisaica e repetida: "Não ha espaço". Dizem que o presidente do BC tem sentido pressão.

 Esse rumor de bastidor, se confirma com um telefonema do Presidente do BC, para o Presidente da Câmara: "Queria que você ajudasse a aprovação do projeto de AUMENTO da independência do Banco Central". Ué, essa independência não é de sempre?

João Havelange

Por quem os sinos dobram? Os sinos dobram por ti. Pelo menos os sinos do futebol, que você elevou á condição de competição verdadeiramente internacional. Em espetáculo que os países disputam para sediar. Quem se lembra das Copas de 30, 34, 38? A de 42 não houve por causa da Segunda Guerra. Para a de 46 faltavam jogadores e países, também não se realizou. 50 no Brasil, apenas com convidados, a França não veio, "o Brasil é muito longe". Conheci o "Doutor João", como eu sempre o chamei, em 1950. 

Depois, maior intimidade e amizade, quando ele foi secretario de esportes do governo Carlos Lacerda. Eles dois e mais João Figueiredo, foram colegas nas Laranjeiras, eram da mesma geração. Lacerda teria feito 100 anos em 2014. Divididos pela política, Figueiredo foi presidente, Lacerda quis ser e quase foi Havelange chegou a presidência da FIFA. Sempre admitiu que pretendia.

Empresário e esportista, campeão de natação carioca, paulista, (morou anos em SP), sul-americano, disputou a Olimpíada de 36, passou para o water pólo. Em 1970, lançou sua candidatura a presidente da FIFA. Conseguiu realizar o Mundialito de Futebol no Brasil, em 1972, inicio da campanha. Correu praticamente o mundo todo. Ninguém ligava para sua candidatura, não diziam seu nome, só falavam, esse "sul-americano".

 A eleição foi em 1974 na Alemanha, em Frankfurter. Eu estava lá. Alem do Brasil, cobri as copas de 1954, 1958, 1962, 1966, não fui á de 1970. Não por minha vontade ou da Tribuna. É que onde eu estava, não havia televisão, nem dialogo,vim a saber o resultado meses depois. Na manhã da eleição, no seu escritório, nós dois e um jornalista árabe, altamente competente. Esqueci seu nome. Passamos horas analisando. Esse craquissimo jornalista árabe, achava tão equilibrado, que não concluiu. Cheguei a uma vantagem de 8 votos para Havelange. Ganhou por 14. Num total elevadíssimo de votantes, uma vantagem difícil e até sofrida.

Havelange tomou posse num escritório mínimo na Suíça. Sua primeira grande decisão. Em 1976, foi procurado pelo Presidente da Federação de Futebol da África do Sul. Disse a Havelange: "Presidente, vim lhe comunicar que não disputaremos a Copa da África". Perguntado pela razão, explicou, "não jogamos com negros". Havelange pediu a confirmação oficial. Quando chegou, determinou: "A África do Sul, está expulsa da FIFA. Não joga com negros, também não joga com brancos".

Submeteu a decisão ao comitê executivo de 20 membros da FIFA. Aprovada por unanimidade. Já haviam percebido, que aquele "sul-americano", não viera para fazer numero. Foi a primeira grande manifestação dura contra a “apartheid”. Valeu até á chegada de Nelson Mandela. Havelange pediu ao Comitê, a anulação da expulsão. E fez questão de entregar a resolução, pessoalmente, ao grande presidente. Era uma das suas maiores admirações.

Posso ou poderia escrever indefinidamente sobre o "Doutor João”. Mas quem o conheceu, sente saudades.Quem não o conheceu na intimidade, na grandeza de estadista,no desassombro, na coragem e no desprendimento,não sabe o que perdeu.

No dia 8 de maio, na data dos 100 anos, me despedi dele. Depois, falamos mais duas vezes. Nem eu nem ele, fomos á missa pelos seus 100 anos Eu e ele, que tanto gostávamos de esporte e de futebol, não fomos á Copa de 2014, aqui perto. Em 1998, na Copa do Mundo da França, conversando comigo, e meus filhos Bruno e Rodolfo, confidenciou: "Às vezes converso com Deus e ele me diz: "Havelange, te garanto aí até os 100 anos. Depois disso, você se defende". Não sei explicar a razão desse fato. O que não me surpreende, principalmente, em se tratando do "Doutor João".

PS- Escrevi sobre o ouro da Rafaela, comovido e empolgado. Por ela, pela vitoria, pela sua historia. Sacrificada, injustiçada, esquecida e abandonada em Londres, mostrou a raça, a garra, a força que não se sabe de onde veio, perdão, dela mesma e da família. Daí, a explicação para os dois mundiais, e o inesquecível e inolvidável ouro Olímpico.

PS2- Estou escrevendo sobre outro ouro, o de Thiago Braz, com a mesma satisfação. Mas com outros sentimentos, embora os dois vindo do coração. No inicio, o prazer de assistir um brasileiro ganhar a prata, numa competição em que o Brasil não tem tradição.

PS3- Depois, a estratégia inesperada, criada na hora por um jovem de 22 anos. Como o francês estava em dificuldades para ultrapassar os 5,98, pediu para colocar em 6,03. Com isso, o adversário só teria uma chance, e ele três. Thiago passou lindamente na segunda, ganhando mas valorizando o ouro.


PS4- Rafaela e Thiago valem ouro. E melhor ainda: podem disputar as Olimpíadas de 2020 e 2024. No mínimo.

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