Titular: Helio Fernandes

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Eduardo Cunha é um retrato enxovalhado e estraçalhado, intimida, mas não assusta

HELIO FERNANDES

Ha 50 anos, o genial Barão de Itararé, fez uma frase, que define o Eduardo Cunha de hoje: "Quem com ferro fere, com ferro será conferido". Conferido, abandonado, cassado. A sessão definitiva foi surpreendente, inusitada, estranha, inesperada. Para os dois lados. Nada do que estava previsto, aconteceu. E o imprevisto prevaleceu, não premeditado, mas rigorosamente verdadeiro.

Marcaram a sessão para as 7 da noite, inédito. Mas era o receio da falta de quórum, que assustava a todos. E levou Rodrigo Maia á declaração e decisão: "Só abrirei a sessão com a presença de 400 deputados". Abriu com menos. E logo suspendeu. O numero longe dos 400, provocou intranqüilidade.

As televisões, e seus comentaristas auto-proclamados medalhas de ouro, confundiram e complicaram tudo. Não acertaram uma. Na véspera e no próprio dia, com grande audiência, transformaram boatos em fatos, sem que milhões, em casa, entendessem alguma coisa. Arrogantes, prepotentes e suficientes, colocaram como chave para compreender o que aconteceria, a palavra RENUNCIA. Não foi pronunciada uma vez sequer.

A segunda insistência durante o dia todo, e até mesmo no transcorrer da sessão: a possível votação elevada a FAVOR de Cunha, o que levou Maia a contradições. Isso foi dissipado e destruído, com um simples olhar para o painel eletrônico. Ninguém esperava ou imaginava, que aparecesse aquele total, rigorosamente impensável e desproporcional: 450 a 10. Apenas 9 abstenções. Normal. E dos 513, compareceram 470. Ausentes apenas 8 por cento, mais do que compreensível.

Insistiam também, que Eduardo Cunha poderia ser beneficiado pelo fatiamento,
que favoreceu Dona Dilma. Durante uma semana isso foi discutido. Até este repórter, considerou que haveria debate sobre o assunto. Sem sucesso.
   
Nem o incansável e inefável Marun, tocou no assunto. Por tres vezes tentou conseguir punição "mais branda'". Para isso, lia artigos do regimento interno. Que Cunha ia passando para ele. E recebia sempre a resposta do presidente Maia: "A questão está superada".

 A sessão foi encerrada exatamente á meia noite. Com a cassação anunciada 6 minutos antes. E o resultado foi tão destruidor, que a calma (aparente) dominou o espetáculo. A perda dos Direitos Políticos, que normalmente seria de 8 anos, foi fixada em 10 anos, até 2027.

(Na ditadura, todos os cassados perdiam os direitos por 10 anos. Este repórter, cassado em 1966, deveria terminar em 1976. Em 1977, o MDB lançou minha candidatura a senador em 1978. O Ministro da Justiça, Gama e Silva não autorizou o registro, com a explicação: "As cassações agora são para sempre". E isso ficou valendo. Não só para mim, atingindo todos os cassados).

Incertezas e inconseqüências, da cassação e perda dos Direitos  

O ex-presidente da Câmara não tem mais poder. Por enquanto, está no caminho de Curitiba, mas vai lutar o mais que puder para não chegar lá. Anteontem, eu disse aqui, que o primeiro recurso que o Supremo presidido por Carmen Lucia terá que examinar, deverá ser de Eduardo Cunha. Ontem, já se reuniu com advogados, para identificar o tipo de recurso. Contra a cassação ou para permanecer com os direitos políticos.

No discurso durante a cassação, acusou o "PT, de ter contribuído, para a aglutinação dos votos contra mim". Tolice. O PT, PC do B, e PDT, têm 80 deputados, todos compareceram e votaram. Estavam obrigados a isso. Se ficassem ausentes, como se explicariam?

Não esquecer: Cunha é réu duas vezes no Supremo. Como não tem mais fôro privilegiado, nada mais compreensível, que esses processos sejam enviados ao juiz Moro. Por determinação do Ministro Zavascki. Ou pedido expresso do Procurador Geral da Republica. Mesmo sendo cassado, e encurralado de muitas maneiras, o Planalto se preocupa com ele.

Cunha tem confidenciado a amigos: "As ruas têm gritado três palavras de ordem. Duas já foram completadas. Falta à terceira". Como não entendessem, explicou com naturalidade: "È o FORA, DILMA, seguido do FORA, CUNHA, e agora, o FORA, TEMER. Os dois primeiros, conseguiram. Tentarão o terceiro,com a minha ajuda direta". Seu alvo principal, hoje, é o presidente indireto. Deixou claro esse 
propósito, no dia 12. Temer sabe disso.

Reforma política, tímida e lenta

A Comissão de Constituição e Justiça, aprovou ontem, duas medidas defendidas por este repórter ha 20 anos. E por todos que almejam por um país governável. O fim das coligações partidárias, mais conhecidas como "voto proporcional". E o fim do escabroso e tenebroso Fundo Partidário. Que carrega com ele, a publicidade "gratuita" de radio e televisão. 

Este sofreu restrições. O primeiro começará a valer, depois da eleição de 2018. Com tanto tempo, terão esquecido. Ou anulado. A reforma política, é prioridade total e absoluta. Mas como tem que ser feita pelo Congresso, percam as esperanças. Presidencialismo-Parlamentarismo, só no Brasil.

Bloomberg: livro de Cunha

O ex-presidente foi personagem do famoso canal de noticias. Do conhecido ex-prefeito de Nova Iorque, por 12 anos. Ontem, noticiava: "Livro de Cunha tem potencial, para provocar danos a muitos políticos". Não revelou quando o livro estará á disposição do publico. E lógico, dos mais interessados e citados.

Cassação: o mercado parece que não gostou

A Bovespa caiu mais de 3 por cento. Petrobras sozinha teve queda de quase 7 por cento. E não foi por influencia dos preços de Londres ou Nova Iorque. Ficaram inalterados. O dólar também subiu. Profissionais, ganharam muito dinheiro. Sem o menor risco.

Debate irônico (?), Cunha - Renan

O presidente do Senado, vibrou e não escondeu, com a cassação do ex-presidente da Câmara.Mas não quis falar. Pressionado pelos jornalistas, respondeu: "Não sou especialista em Eduardo Cunha. E muito menos amigo". O ex-presidente cassado soube e respondeu: "Espero que os ventos que vão soprar contra Renan, não sejam tempestade".

PS- Já publiquei e registrei: os Procuradores da Lava-Jato, não estão interessados numa suposta delação de Cunha. E acrescentaram: aceitaríamos um depoimento da mulher, Claudia Cruz. 

PS2- Ontem voltaram a falar no assunto. Não consegui confirmação. Mas continuo não acreditando. Cunha tem tantos processos, acusações e processos, que para obter um resultado razoável, terá que depor vários anos. Não necessariamente em liberdade.


PS3- Textual de Cunha, no depoimento de anteontem: "Recebi 53 pedidos de impeachment, contra a ex-presidente. Só abri um, apesar de dizerem que eu era um perseguidor". Ele acredita que os brasileiros são idiotas. E que se entendesse, poderia iniciar 53 processos de impeachment.

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